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Belas Hara

Lolis - Eternamente Jovens

Shiro de No Game No Life
Com certeza você já deve ter ouvido falar no termo loli atrelado a animes, games e mangás ou também já pode ter lido alguma coisa sobre a ONU polemizando ao tentar proibir mídias japonesas que apresentam conteúdos loli. Mas, você faz mesmo ideia do que vem a ser loli? Vamos descobrir juntos.

O QUE É LOLI?
Essa resposta depende, única e exclusivamente, do local onde a pergunta é feita, se no Japão ou no resto do mundo. A origem do termo loli está na influência do controverso romance intitulado "Lolita" (1955), do romancista russo-americano Vladimir Nabokov (1899-1977). Na história, o protagonista e narrador não confiável, um professor universitário de Literatura de meia-idade, que usa o pseudônimo de Humbert Humbert, se torna obcecado por uma menina de 12 anos, chamada Dolores Haze, com quem ele se envolve sexualmente depois de se tornar seu padrasto. O pedófilo Humbert dá para sua enteada Dolores o apelido particular de "Lolita".

Quando o romance de Nabokov foi traduzido pela primeira vez para o japonês, em 1959 por Yasuo Ohkubo, na cultura japonesa já existia a associação de uma jovem com um homem mais velho, em um contexto bastante específico. A menina solteira, a shoujo, que representa uma imagem romantizada de inocência e beleza não corrompidas, está num estado transitório da vida, que é representado pela flor de cerejeira (sakura). E, assim como um sopro de vento irá desalojar as flores de cerejeira de uma árvore, a beleza (e a vida) é frágil e breve, contendo dentro de si uma melancolia ou tristeza, representando a estética japonesa quintessencial de mono não ciente (a tristeza ou sensibilidade de coisas).

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No famoso livro "Genji monogatari" (ou "The Tale of Genji"), escrito por Murasaki Shikibu, no século 11, a sakura é personificada pela personagem Murasaki no Ue. A história narra que Murasaki é levada, quando criança, pelo príncipe Genji, 10 anos mais velho que ela, para treinar a fim de ser a senhora perfeita e se tornar sua esposa. Genji a trata com respeito, esperando alguns anos antes de consumar o casamento. Historicamente, essa representação japonesa contém a ideia da jovem treinada como a companheira perfeita para o casamento, ou melhor, preparada para a vida adulta. A imagem da garota japonesa encantadora, submissa e obediente a ser moldada na companheira perfeita pelo homem mais velho acabou por conquistar também o Ocidente, virando um estereótipo no século 20.

capa de Eromanga Sensei
Eromanga Sensei
No início do século 20, as relações de gênero estavam em processo de mudança no Japão, devido a emancipação das mulheres desafiando essa representação. Por isso, um novo romance surgiu para expressar essa mudança. Ele foi o "Chijin no Ai" (ou "Naomi"), escrito por Junichiro Tanizaki, em 1925. Nessa história, o protagonista Jouji, 28 anos, leva Naomi, 15 anos, para sua casa, com a ideia, assim como Genji, de treiná-la como sua esposa. Ele espera até que ela tenha 16 anos antes de consumar o relacionamento. Porém, seus planos dão errado. Naomi se transforma em uma moga (uma garota moderna) e abraça as ideias ocidentais. Ela é infiel e, por fim, vira o jogo contra ele e oferece um relacionamento com ele em seus próprios termos, que ele, em seu amor por ela, aceita. Naomi amadurece em sua própria mulher, vivendo a vida de acordo com seus próprios desejos, aos quais Jouji concorda. Chijin no Ai se tornou um livro sobre como lidar com a mudança nas relações de gênero. Vale salientar que, ainda hoje, a idade mínima para mulheres se casarem no Japão é de 16 anos, o que só vai mudar a partir de 1.º de abril de 2022, quando uma emenda à lei civil modificará a idade legal de casamento para 18 anos, para ambos os sexos.

Então, com a chegada de Lolita no Oriente, a história de Nabokov é logo comparada com a de Tanizaki. Ao contrário do que ocorre com Humbert e Dolores, o relacionamento entre Jouji e Naomi não é ilícito. A questão chave na história japonesa não é a juventude, mas sim sua emancipação. Dessa forma, difere também a conclusão dos dois romances. Ao contrário da história de Lolita, que termina em assassinato e tragédia, Jouji aceita a evolução de Naomi evolui da maneira como ela queria. Logo, o comportamento de Humbert não é tolerado, é criminoso. Já a Dolores, ou melhor, a Lolita, simboliza o shoujo e apresenta uma qualidade positiva chave na cultura japonesa, que é a resistência, a habilidade de sobreviver às tribulações da vida. Além disso, ela é corajosa.

capa de Rozen Maiden
Rozen Maiden
Por isso, dentro da culura japonesa, Lolita, juntamente com a personagem Alice, de Alice no País das Maravilhas, passaram a representar shoujo corajosos lutando contra um mundo adulto indesejável de responsabilidade social e deveres e, como tal, juntas simbolizam o shoujo modelo na cultura kawaii (fofinho). Muito embora o shoujo possa ser entendido como imaturo e maleável, na literatura japonesa, aqueles homens que enxergam apenas a beleza superficial podem ser arrastados para a tragédia. Por este motivo existe uma frase japonesa que diz que uma mulher é como um punho de ferro em uma luva de veludo.

Como resultado da inserção do romance de Nabokov no Japão, foram criados os seguintes termos distintos entre si, que passaram a vigorar em todo o território Oriental:

Lolita (Japão): é uma moda ornamentada bastante popular entre as adolescentes japonesas. Sua expressão consiste na nostalgia cultural por uma infância de fantasia imperturbável, livre da dureza do mundo adulto. Esse estilo abraça uma indumentária vitoriana (babados e rendas), enquanto mergulha na fantasia shoujo de uma infância idílica. Vitoriana, pois, não apenas a "ninfeta" de Humbert deriva de lá, mas também a Alice. Existem muitas variantes, como Gothic Lolita, Sweet Lolita e Sailor Lolita;

Loli (Japão): em animes, mangás ou brinquedos, o termo loli descreve personagens femininas que se assemelhem a shoujo, ou seja, que tenham ou aparentem ter idade entre 9 e 14 anos. Tal faixa de idade faz referência ao discurso de justificação do personagem Humbert no livro de Nabokov;

capa de No Game No Life vol.1
No Game No Life
Lolicon (Japão): também chamado de rorikon ou lolikon, é um discurso japonês. Como um efeito do processo de emancipação feminina, os meninos desenvolveram um certo "medo" pelo shoujo moderno. Surgiu então o termo "otaku" para designar aqueles fãs dedicados de quadrinhos que eram vistos como socialmente inadequados para lidar com garotas. Veio também o termo "hikikomori" para aqueles outros ainda mais afetados. Não se sabe se foi motivado por esse estado de ansiedade entre os meninos japoneses devido ao "medo e do desejo" do shoujo, mas surgiu o gênero de mangá chamado rorikon (ou Lolicon), um morfema japonês para o termo complexo de lolita. No mangá rorikon, o termo Lolita agora representava um shoujo mítico - oposto da jovem emancipada - subdesenvolvido, fofo, infantil, não ameaçador e obedecendo aos desejos eróticos do masculino, proporcionando um mundo imaginário como fuga da ansiedade de se envolver com o shoujo real. Essas Lolitas fantasiosas estavam agora livres dos limites do mundo real, podendo ter cabelos azuis, ser alienígenas, androides, robôs ou garotas-gato com orelhas e cauda longa. Com o tempo, o termo Lolicon passou a incluir animes, brinquedos e outras mídias infantis. E assim, essas expressões do desejo otaku, visto como um momento de crise na masculinidade, são consideradas MOE. Um exemplo clássico é a personagem Rei Ayanami, de Neon Genesis Evangelion, pois, embora pareça uma garota de 14 anos, ela é na verdade um clone com a alma de um "anjo" não humano. Em resumo, Lolicon é a atração por Lolitas eroticamente fantasiosas em resposta ao medo do shoujo real;

capa de Youjo Senki
Youjo Senki
Shotacon (Japão): é uma gíria japonesa que serve como abreviação para complexo de Shotaro. Funciona como o Lolicon, só que a atração aqui é por personagens jovens masculinos em mangás, animes, brinquedos e outras mídias infantis. Shotaro faz referência ao personagem masculino Shotaro Kaneda, 10 anos, do mangá Tetsujin 28-gō.

De maneira diferente de como ocorreu dentro do Japão, o termo loli adquiriu significados diferentes no restante do mundo. Isso por que, a Lolita aqui já não é mais uma criança assexuada de 12 anos, vítima da exploração de um homem mais velho e manipulador. Ela virou o estereótipo de uma jovem fisicamente madura e sexualmente consciente que instiga e flerta com o homem adulto. E o cinema foi o grande responsável por essa mudança, uma vez que, para poder vender uma versão cinematográfica socialmente aceitável do livro de Nabokov, simplesmente assimilou Dolores às formas culturais atuais, envelhecendo-a ao mesmo tempo que insinuava características infantis. A capa do primeiro filme, Lolita (1962) de Stanley Kubrick, mostra a atriz Sue Lyon, 15 anos, que mais parece ter 17, usando óculos escuros em forma de coração e chupando um pirulito. O segundo filme, Lolita (1997) de Adrian Lyne, usou a atriz Dominique Swain, 17 anos, para repetir a mesma estratégia do filme de Kubrick e erotizar uma personagem que era assexuada. Nesse meio tempo, houve ainda uma contribuição do cinema pornô, quando o cineasta italiano Claudio Papalia, sob o pseudônimo de Clyde Rocca, teve a brilhante ideia de lançar o filme pornô Lolita 2000, em 1990, utilizando imagens do filme de Kubrick como pôster promocional, onde retratou Lolita como uma pussycat lasciva, uma gatinha sexual de subúrbio.

capa de Oreimo
Oreimo
A pergunta de marketing do longa-metragem de Kubrick parece bem pertinente agora: "Como que eles fizeram um filme de Lolita?". E nós respondemos: "Pois é. Não deveriam ter feito!". Apesar deste primeiro filme exibir que o roteiro foi exclusivamente de Vladimir Nabokov, o cineasta editou, cortou e modificou tanto o texto, muito devido a forte pressão do Código de Produção e da Liga Católica Romana da Decência, que acabou por criar um versão totalmente deturpada da Lolita, conferindo a ela o charme insidioso da "ninfeta" denunciada por Humbert, que virou estereótipo. O perigo disso tudo é que, nessa nova roupagem, o desejo de Humbert se torna compreensível ao invés de pervertido.

Outro implicante no Ocidente é quanto a interpretação de que a idade adulta é um tempo de independência e liberdade pessoal, forçando o entendimento social de que, quanto mais cedo alguém se tornar adulto, mais rápido poderá receber esses benefícios. Reforçando essa linha de pensamento, existem ícones na cultura pop ocidental, como Britney Spears, que alcançaram a fama e fortuna apresentando uma imagem infantil sexualmente atraente. Deste modo, tal "modelo" de impulsão para a idade adulta deixa falhas ao não frisar as responsabilidades sociais e deveres incluídas com a vida adulta.

Diante da disseminação do conteúdo do romance Lolita na sociedade e com a consequente desfiguração que a mídia causou, o Ocidente viu surgir alguns termos carregados de preconceito e quase sem sinal de ligação com a referência original:

Lolita (Ocidente): é um termo usado utilizado para definir a uma jovem precocemente sedutora e sem conotações de vitimização. Pode se referir também a um tipo de vestimentas íntimas femininas, a lingerie Lolita. Dentro da pornografia, o termo se refere a material de exploração infantil retratando o abuso sexual de menores;

capa de Gochuumon wa Usagi Desu ka?
Gochuumon wa Usagi Desu ka?
Loli (Ocidente): Se assemelha ao significado do termo no Japão, mas acrescenta a obrigatoriedade da sexualização das personagens;

Lolicon (Ocidente): termo que se refere a animes ou mangás que retratam meninas menores de idade, entre 6 a 14 anos, em situações sexuais ou de nudez. Pode se referir também aos crimes de pedofilia ou efebofilia;

Shotacon (Ocidente): eqivalente ao Lolicon, mas retrantando meninos. Pode se referir também aos crimes de pedofilia ou efebofilia.

PODE DAR ALGUM EXEMPLO?
Claro, são inúmeros. Desde mangás que nunca viraram animes até animes que vivaram mangás, várias são as produções que envolvem conteúdo loli. Mas, vamos nos ater apenas a alguns desses casos mais conhecidos:

→ No Game No Life;

→ Oreimo;

→ Rozen Maiden;

→ Eromanga Sensei;

→ Youjo Senki (ou The Saga of Tanya the Evil);

→ Gochuumon wa Usagi Desu ka? (ou Is the Order a Rabbit?);

→ Kobayashi-san chi no Maid Dragon (ou Miss Kobayashi's Dragon Maid).

Já houveram diversas investidas de entidades que vêm o conteúdo loli como uma perigosa ameaça aos valores da sociedade. Uma das mais divulgadas recentemente partiu do Comitê dos Direitos da Criança (CRC), da ONU, que visa alterar o "Protocolo Facultativo Referente à Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis para a Convenção dos Direitos da Crianças" (OPSCCRC) para enquadrar todo conteúdo de lolis e shotas em animes e mangás como pornografia infantil. Mas, esse assunto fica para outro post.

capa de Kobayashi-san chi no Maid Dragon
Kobayashi-san chi no Maid Dragon

Fonte: Wikipedia; IMDB.

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