Na sua opinião, quando é que um jogo vai longe demais? E nesse caso, deveria um governo ou entidade pública ter poder para restringi-lo? Não precisa responder agora. Leia mais algumas linhas deste post e entenda um pouco mais sobre esse assunto.
Saber que o jogo contém temas como sexo não consentido e alusão ao aborto já é motivo suficiente para muitos pais não deixarem seus filhos passarem nem perto deste, não é verdade? Mas vamos piorar a situação um pouco mais. Imagine que este game também possui cenas de humilhação, incesto, relações com menores, sequestro e está disponível para venda num site que seu filho costuma frequentar. E agora?
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Caso RapeLay
No ano de 2009, o mundo ficou barbarizado ao descobrir no famoso site de vendas Amazon a existência de um eroge do tipo hentai chamado RapeLay, lançado pela produtora japonesa Illusion em 2006, em qual eram tratados temas considerados tabus, como a violência sexual. A polêmica tornou-se tão ensurdecedora que não apenas a Amazon, mas todo o mercado de jogos localizados fora do Japão baniram o referido eroge de suas prateleiras. Exatamente isso que você leu, o Japão foi o único país no planeta Terra em que o controverso eroge continuou sendo comercializado após esta polêmica.
O eroge RapeLay coloca você no papel de Masaya Kimura, um "chikan" ou maníaco sexual japonês. Ele é um jovem de uma família rica e poderosa, que gosta de passar o tempo molestando meninas bonitas em trens e em outros lugares públicos. Após uma tentativa de abuso sem sucesso, o protagonista acaba sendo preso. Agora, sua mente está inclinada à vingança e seu objetivo é claro: perseguir e eventualmente violar Aoi, a garota que o fez ser preso, bem como sua mãe e sua irmã mais nova.
Diante desse tema, este eroge não demorou muito sem ser notado. Nas palavras de Taina Bien-Aime, da organização de direitos da mulher Equality Now, que fez campanha na época para que o RapeLay fosse retirado das prateleiras, temos:
Taina ainda acrescentou avisando que a Equality Now já estava viabilizando contato com o governo japonês no sentido de:
Aqui no Brasil, assim que o caso envolvendo xx passou a ser investigado pelo Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos do MPF, em 2009, o então procurador da República Sérgio Suiama, falou:
Contudo, todo esse movimento de repúdio ao invés de culminar na interrupção de vendas de RapeLay, contribuiu para viralizá-lo na internet, convidando pessoas, que poderiam continuar suas vidas sem nunca tomar conhecimento da existência deste eroge, a experimentá-lo. Posteriormente, foram até lançadas expansões para o jogo. Mas, inevitavelmente, a Illusion se viu obrigada a encerrar a distribuição do referido eroge, temendo pelo marketing negativo e seu impacto sobre a indústria. Em virtude de casos como esse, tornou-se bastante comum encontrar sites de eroge que restringem o acesso apenas ao território japonês. Agora, que fique claro uma coisa, a Illusion NÃO FEZ NADA DE ERRADO! Vocês irão entender aonde quero chegar.
O Japão e sua política de censura
É fato que o Japão é o berço da animação e dos video games e por isso todos nós somos eternamente gratos. Não somente isso, mas o mundo deve muito a cultura japonesa inteira, como culinária, esportes, etc. Contudo, existe na política monárquica japonesa um certo cuidado em não restringir a liberdade de expressão que à primeira vista chega a ser constrangedor. Outro ponto a sinalizar aqui é quanto a presença da arte erótica no país. Historicamente, a arte erótica existe no Japão desde o Período Edo (1603-1868), inclusive acredita-se que o hentai (material de conteúdo sexual bizarro) seja inspirado nessa arte. E somado a isso, embora o Japão possua leis de censura para conteúdo sexual, o que obriga que video games e vídeos exibam tarjas sobre os orgãos genitais, suas políticas não restringem os temas e as ideias tratados nos jogos.
Se você ler um pouco mais sobre a indústria da animação (e outras) restrita ao Japão, perceberá que é absolutamente normal o tratamento de temas considerados tabus no Ocidente, com a devida recomendação de idade. Temos exemplos disso em mangás, animes, visual novels, filmes, eroge, etc. Veja que o eroge RapeLay foi produzido para os japoneses e de acordo com as leis de seu país. Daí, se o site Amazon decidiu trazê-lo para o Ocidente, deveria ser deste a responsabilidade de verificar os temas do game e decidir se era realmente viável ganhar dinheiro com ele fora do Japão.
O Bode Expiatório
Considerado os argumentos acima, acho que quando você critica um item produzido especificamente para uma comunidade, equivale ao mesmo que criticar a própria comunidade, e nesse caso, me atrevo a dizer que isso significa que é porque você não a aceita. Críticas voltadas para os eroges são normalmente motivadas por duas ideias: preconceito contra os games em geral, que parece ter se originado de briga entre indústrias rivais, e o preconceito contra japoneses. Já ouvi pessoas dizendo que "video game é coisa de criança", "video game só gera alienados", "video game incentiva ao crime", "os japoneses são todos iguais, só andam dormindo", "'japa' tem pinto pequeno", etc. E para encurtar as justificativas contra essas ideias de girico, basta dizer todas são resultado da falta de informação.
RapeLay não foi o primeiro e nem tão pouco o último game japonês a tratar de temas considerados tabus. A própria Illusion já produziu vários outros títulos tão "pesados" quanto o citado neste post, como Real Play (7 de março de 2014) e PlayHome (13 de e outubro de 2017). Mas além da Illusion, existem "n" empresas produzindo eroges do gênero nukige (ou yaruge), como por exemplo a Torotoro Resistance e a Alice Soft. Na minha opinião, a obrigação de tais empresas é informar os temas existentes nos games e sinalizar a respectiva idade mínima, o que elas fazem muito bem. Agora, se os pais não querem policiar seus próprios filhos ou se o vendedor não se importa em restringir as vendas de acordo a idade recomendada, a culpa não é do produtor. E isso vale não somente para games, como também para qualquer produto que seja destinado ao público, como por exemplo este site, em qual, ao tentar acessar, você é notificado sobre a existência de conteúdo impróprio para menores. Basta isso e um programa qualquer de Controle de Conteúdo dos Pais para que nenhuma criança jamais acesse tal material.
Games como causador de crimes
Durante o caça às bruxas contra RapeLay, o discurso central dos grupos feministas era que o game incentivava crimes, neste caso contra mulheres. Mas essa não foi a primeira vez que a indústria de video games sofreu acusações como desse tipo. Tivemos casos com Manhunt (ROCKSTAR), Doom (ID SOFTWARE), Bully (ROCKSTAR) e etc. Já houveram pesquisas que provaram o contrário e, na minha opinião, responsabilizar um game pela ação de um determinado sujeito mais parece falta de competência de quem deveria investigar sua real motivação. Acho que, um indivíduo que vai se tornar um transgressor contumaz já possui uma índole ruim, adquirida antes ou depois de seu nascimento. Daí o papel que um game irá desempenhar na lapidação da tal mente criminosa será igual aquele de um filme ou música ou doutrina. Acho que não é acabando com a liberdade de expressão que resolveremos o problema da criminalidade, mas sim conscientizando nossos filhos e população em geral.
Voltando a questão que iniciou este post, considere então toda a liberdade que temos atualmente e imagine agora se o governo começasse a banir filmes, músicas, comerciais de tv e demais produtos apenas por apresentarem algum conteúdo considerado tabu? Seria um tanto absurdo Sabe o que eu acho ser prejudicial às pessoas? Bebidas alcoólicas e cigarros.
Saber que o jogo contém temas como sexo não consentido e alusão ao aborto já é motivo suficiente para muitos pais não deixarem seus filhos passarem nem perto deste, não é verdade? Mas vamos piorar a situação um pouco mais. Imagine que este game também possui cenas de humilhação, incesto, relações com menores, sequestro e está disponível para venda num site que seu filho costuma frequentar. E agora?
Você também pode se interessar:
→ Postagem Uma Senadora vs Mangás 'Criminosos'
→ Matéria Desmistificando os Eroges
→ Postagem Um Senador vs Animes e Mangás 'Criminosos'
Caso RapeLay
No ano de 2009, o mundo ficou barbarizado ao descobrir no famoso site de vendas Amazon a existência de um eroge do tipo hentai chamado RapeLay, lançado pela produtora japonesa Illusion em 2006, em qual eram tratados temas considerados tabus, como a violência sexual. A polêmica tornou-se tão ensurdecedora que não apenas a Amazon, mas todo o mercado de jogos localizados fora do Japão baniram o referido eroge de suas prateleiras. Exatamente isso que você leu, o Japão foi o único país no planeta Terra em que o controverso eroge continuou sendo comercializado após esta polêmica.
O eroge RapeLay coloca você no papel de Masaya Kimura, um "chikan" ou maníaco sexual japonês. Ele é um jovem de uma família rica e poderosa, que gosta de passar o tempo molestando meninas bonitas em trens e em outros lugares públicos. Após uma tentativa de abuso sem sucesso, o protagonista acaba sendo preso. Agora, sua mente está inclinada à vingança e seu objetivo é claro: perseguir e eventualmente violar Aoi, a garota que o fez ser preso, bem como sua mãe e sua irmã mais nova.
Diante desse tema, este eroge não demorou muito sem ser notado. Nas palavras de Taina Bien-Aime, da organização de direitos da mulher Equality Now, que fez campanha na época para que o RapeLay fosse retirado das prateleiras, temos:
Este foi um jogo que não teve absolutamente nenhum lugar no mercado [...] Obviamente, é muito difícil restringir a atividade na Internet. Mas os governos têm um papel na tentativa de regular esse tipo de pornografia extrema de crianças, tanto em seus países como através da Internet.
Taina ainda acrescentou avisando que a Equality Now já estava viabilizando contato com o governo japonês no sentido de:
[...] proibir todos os jogos que promovam e simulam violência sexual, tortura sexual, perseguição e estupro contra mulheres e meninas. E há muitos jogos como esse.
Aqui no Brasil, assim que o caso envolvendo xx passou a ser investigado pelo Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos do MPF, em 2009, o então procurador da República Sérgio Suiama, falou:
Se há locais estabelecidos no Brasil vendendo, nós vamos agir contra eles.
Contudo, todo esse movimento de repúdio ao invés de culminar na interrupção de vendas de RapeLay, contribuiu para viralizá-lo na internet, convidando pessoas, que poderiam continuar suas vidas sem nunca tomar conhecimento da existência deste eroge, a experimentá-lo. Posteriormente, foram até lançadas expansões para o jogo. Mas, inevitavelmente, a Illusion se viu obrigada a encerrar a distribuição do referido eroge, temendo pelo marketing negativo e seu impacto sobre a indústria. Em virtude de casos como esse, tornou-se bastante comum encontrar sites de eroge que restringem o acesso apenas ao território japonês. Agora, que fique claro uma coisa, a Illusion NÃO FEZ NADA DE ERRADO! Vocês irão entender aonde quero chegar.
O Japão e sua política de censura
É fato que o Japão é o berço da animação e dos video games e por isso todos nós somos eternamente gratos. Não somente isso, mas o mundo deve muito a cultura japonesa inteira, como culinária, esportes, etc. Contudo, existe na política monárquica japonesa um certo cuidado em não restringir a liberdade de expressão que à primeira vista chega a ser constrangedor. Outro ponto a sinalizar aqui é quanto a presença da arte erótica no país. Historicamente, a arte erótica existe no Japão desde o Período Edo (1603-1868), inclusive acredita-se que o hentai (material de conteúdo sexual bizarro) seja inspirado nessa arte. E somado a isso, embora o Japão possua leis de censura para conteúdo sexual, o que obriga que video games e vídeos exibam tarjas sobre os orgãos genitais, suas políticas não restringem os temas e as ideias tratados nos jogos.
Se você ler um pouco mais sobre a indústria da animação (e outras) restrita ao Japão, perceberá que é absolutamente normal o tratamento de temas considerados tabus no Ocidente, com a devida recomendação de idade. Temos exemplos disso em mangás, animes, visual novels, filmes, eroge, etc. Veja que o eroge RapeLay foi produzido para os japoneses e de acordo com as leis de seu país. Daí, se o site Amazon decidiu trazê-lo para o Ocidente, deveria ser deste a responsabilidade de verificar os temas do game e decidir se era realmente viável ganhar dinheiro com ele fora do Japão.
O Bode Expiatório
Considerado os argumentos acima, acho que quando você critica um item produzido especificamente para uma comunidade, equivale ao mesmo que criticar a própria comunidade, e nesse caso, me atrevo a dizer que isso significa que é porque você não a aceita. Críticas voltadas para os eroges são normalmente motivadas por duas ideias: preconceito contra os games em geral, que parece ter se originado de briga entre indústrias rivais, e o preconceito contra japoneses. Já ouvi pessoas dizendo que "video game é coisa de criança", "video game só gera alienados", "video game incentiva ao crime", "os japoneses são todos iguais, só andam dormindo", "'japa' tem pinto pequeno", etc. E para encurtar as justificativas contra essas ideias de girico, basta dizer todas são resultado da falta de informação.
RapeLay não foi o primeiro e nem tão pouco o último game japonês a tratar de temas considerados tabus. A própria Illusion já produziu vários outros títulos tão "pesados" quanto o citado neste post, como Real Play (7 de março de 2014) e PlayHome (13 de e outubro de 2017). Mas além da Illusion, existem "n" empresas produzindo eroges do gênero nukige (ou yaruge), como por exemplo a Torotoro Resistance e a Alice Soft. Na minha opinião, a obrigação de tais empresas é informar os temas existentes nos games e sinalizar a respectiva idade mínima, o que elas fazem muito bem. Agora, se os pais não querem policiar seus próprios filhos ou se o vendedor não se importa em restringir as vendas de acordo a idade recomendada, a culpa não é do produtor. E isso vale não somente para games, como também para qualquer produto que seja destinado ao público, como por exemplo este site, em qual, ao tentar acessar, você é notificado sobre a existência de conteúdo impróprio para menores. Basta isso e um programa qualquer de Controle de Conteúdo dos Pais para que nenhuma criança jamais acesse tal material.
Games como causador de crimes
Durante o caça às bruxas contra RapeLay, o discurso central dos grupos feministas era que o game incentivava crimes, neste caso contra mulheres. Mas essa não foi a primeira vez que a indústria de video games sofreu acusações como desse tipo. Tivemos casos com Manhunt (ROCKSTAR), Doom (ID SOFTWARE), Bully (ROCKSTAR) e etc. Já houveram pesquisas que provaram o contrário e, na minha opinião, responsabilizar um game pela ação de um determinado sujeito mais parece falta de competência de quem deveria investigar sua real motivação. Acho que, um indivíduo que vai se tornar um transgressor contumaz já possui uma índole ruim, adquirida antes ou depois de seu nascimento. Daí o papel que um game irá desempenhar na lapidação da tal mente criminosa será igual aquele de um filme ou música ou doutrina. Acho que não é acabando com a liberdade de expressão que resolveremos o problema da criminalidade, mas sim conscientizando nossos filhos e população em geral.
Voltando a questão que iniciou este post, considere então toda a liberdade que temos atualmente e imagine agora se o governo começasse a banir filmes, músicas, comerciais de tv e demais produtos apenas por apresentarem algum conteúdo considerado tabu? Seria um tanto absurdo Sabe o que eu acho ser prejudicial às pessoas? Bebidas alcoólicas e cigarros.
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