The Last Of Us 2 é banido da Game Valley

Beijo entre Ellie e Dina The Last Of Us 2

Para quem já jogou The Last of Us Part II, sabe que o game é bastante polêmico e parece ter vindo para chocar a sociedade, em vários sentidos. E já impactou tanto, que fez com que suas vendas fossem proibidas nos países do Oriente Médio, mais especificamente nos Emirados Árabes Unidos e na Arábia Saudita. E agora, uma grande loja de varejo do Egito, a Game Valley, também deixou de vender o novo game da Naughty Dog alegando que a obra era uma verdadeira afronta a Deus e que não representava os valores centrais das famílias egípcias.

Confira só o anúncio público (tradução) da Game Valley sobre o banimento, em post de 19/06/2020 na página oficial do Facebook:

Devido ao conteúdo de Last of us II, que é incompatível com a ética e os valores legítimos da sociedade egípcia, a administração da Game Valley decidiu impedir a compra ou venda de cópias deste jogo, para que não participemos ou contribuamos para a disseminação de tais atos ou crenças.

Vamos também preservar os direitos das famílias egípcias de não assistir a conteúdo desse tipo desonroso que não esteja de acordo com os costumes e tradições de nossa sociedade e nunca participaremos ou contribuiremos para a disseminação do vício em nossa sociedade para preservar as tradições e moral pública fomos criados.

Sinto muito por vender qualquer versão do Last of us II.

Os comentários que seguem esse post são de aprovação, como pode ser conferido aí no link, pois muitos egípcios consideraram mais do que justo a atitude da Game Valley, considerando-a "decisão respeitosa" tomada por uma "por uma "companhia respeitosa".

Acho que Ellie não gostou nem um pouco desse anúncio.

Entendemos que cada pessoa tem o direito de ter uma opinião sobre tudo e por este motivo vamos expressar nosso pensamento sobre a situação do game. The Last of Us Part II, sequência do espetacular The Last of Us, é uma obra-prima, tal como foi seu antecessor, trazendo personagens carismáticos, histórias brilhantes, trilha sonora sublime, momentos emocionantes, e tabus, como uso de drogas, bullying, vingança pessoal e diversidade sexual, e esse último parece ser o motivo "inaceitável" que incomoda tanto algumas pessoas.

Dina

Sem querer espoilar muito, reencontramos Ellie, agora com 19 anos e com uma personalidade em dúvidas, quer seja por desconfiar da participação de Joel no desfecho da missão impossível iniciada no game 1, quer seja pela desconfiança em seus sentimentos amorosos, e a vemos desenvolver um relacionamento homoafetivo com a personagem Dina (confira no vídeo abaixo), uma garota judia que tem mais ou menos a sua idade. Assim, enquanto discutimos "até que ponto você iria para salvar quem você ama?", nos damos conta do estigma social causado no indivíduo quando da descoberta de sua sexualidade, bem como de seus consequentes conflitos internos que podem levar a marginalização e, muitos vezes, a morte.

No jogo, o ambiente físico em qual Ellie vive, a comunidade em Jackson (Wyoming), já não é tão desesperador quanto era no game 1, mas a mentalidade das pessoas é tão destrutiva quanto já conhecemos aqui no mundo real, e Ellie sentirá isso. Em ambos os lugares, os preconceitos falam tão alto que quase causam surdez na sociedade. E isso tudo devido a pessoas que se acham tão "perfeitas" a ponto de ousarem tentar obliterar os "diferentes", como psicopatas seletivos em bando.

Calma, que um dia eles aceitam.

Quanto a Sony, ela bem sabe que os muçulmanos não simpatizam com homossexuais, então a simples tentativa de empurrar The Last of Us Part II no mercado deles pode ser entendida como uma forma de lesar ofensa, muito embora a população do Egito não seja majoritariamente muçulmana. Para colocar mais lenha na fogueira, o game ainda traz uma breve mais intensa cena de sexo protagonizada pelos personagens Abby e Owen que fazem rapidinha por trás (confira no vídeo abaixo), justamente a posição "O ato de retorno" do Kamasutra. Acontece, que a Abby tem um físico e jeitão masculino, e por isso a cena parece servir como forma de insinuar um sexo homoafetivo.

O fato do game The Last of Us Part II fazer suscitar a discussão sobre o "elefante branco na sala" é bom e oportuno, porque de "jogo mais do mesmo" o mercado já está cheio. Contudo entendemos que neste caso da Game Valley existem questões religiosas envolvidas, além do código de ética da sociedade local e tal. Mas, mesmo assim acreditamos que banir um game idôneo é não dar chance ao diálogo e, por conseguinte, abrir espaço para o puro e simples cerceamento da liberdade.