Alguns pesquisadores estadunidenses estão dando forma a uma dura campanha contra a venda das Sexbots com IA alegando que tal ação representa potencial dano psicológico e moral aos indivíduos e a sociedade em geral. Segundo eles, a situação está ficando fora de controle porque as agências de supervisão ficam constrangidas demais para investigá-la. Mas, será mesmo que esses brinquedos +18 "inteligentes" nos vencerão pelo amor?
No ano de 2017, uma pesquisa da empresa de consultoria estadunidense YouGov Omnibus, realizada nos EUA com 1,2 milhões de pessoas adultas, revelou que 24% dos homens e 9% das mulheres consideram manter relação sexual com robôs. Essa mesma pesquisa mostrou que 29% dos homens e 36% das mulheres acreditam que o sexo com robôs é uma forma de traição, contra 33% que acham que isso seria apenas como uma nova forma de masturbação. Quando questionados se era importante um sexbot parecer ou não com um ser humano, 52% afirmaram que era de suma importância que eles fossem semelhantes aos humanos.
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Para Kathleen Richardson, que é professora de Ética e Cultura de Robôs e Inteligência Artificial pela De Montfort University, na cidade de Leicester/Inglaterra, em entrevista à BBC News, o problema é que "essas empresas estão dizendo: 'Você não tem amigos? Você não tem um companheiro de vida? Não se preocupe, podemos criar uma namorada robô para você'." No entanto ela lembra que "um relacionamento com uma namorada é baseado na intimidade, no apego e na reciprocidade. São coisas que não podem ser reproduzidas por máquinas". E Richardson não está sozinha neste pensamento. Ela orienta um grupo que foi criado justamente para monitorar o surgimento das sexbots.
Segundo a pesquisadora Christine Hendren, da Duke University, nos EUA, também em entrevista à BBC News, a situação é mais grave do que se pensa pois "os riscos são altos [...] alguns robôs estão programados para se rebelar, para criar um cenário de estupro [...] alguns são projetados para parecer crianças. Um desenvolvedor destes robôs no Japão é um pedófilo assumido, que diz que esse dispositivo é profilático - ou seja, pode ser usado para impedir que ele machuque uma criança real". E por fim, ela questiona, "será que isso [a venda de sexbots] não normaliza e dá às pessoas a chance de adotar comportamentos que devem ser apenas erradicados?", pouco depois de participar do encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
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De um modo geral, essa campanha dos educadores contra as sexbots, que inclusive possui site próprio, funciona em parceria com um grupo de especialistas em políticas públicas e visa criar uma legislação destinada a proibir alegações de que parceiros robôs podem substituir as relações humanas. Ela acerta em cheio a empresa Realrobotix, responsável pela Harmony - A Primeira Sexbot com IA, lançada em 2019.
Matt McMullen, fundador e CEO da Realrobotix, alega que sua sexbot "inteligente", a SexDoll X, "não foi projetada para distorcer a realidade de alguém até o ponto em que eles começam a interagir com outros humanos da maneira que eles fazem com o robô - esse não é o objetivo aqui". De acordo com ele, as sexbots funcionam como "alternativas e não substitutos de parceiros sexuais humanos". Ele acrescenta que "ela vai se lembrar de coisas sobre você, seus gostos, suas aversões e suas experiências", explicando assim o funcionamento do recurso da "gameficação".
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"Estamos caminhando rumo a um futuro em que continuamos normalizando o conceito de mulheres como objetos sexuais? [...] se alguém tem um problema de relacionamento na vida real, vai lidar com isso com outras pessoas, não normalizando a ideia de que você pode ter um robô em sua vida e que pode ser tão bom quanto uma pessoa", completou Richardson, deixando subentendido que essa "guerra" ainda vai render muitas matérias.
Pode ser difícil ter empatia neste caso, mas tente pensar naquelas pessoas que hoje se encontram incapazes de se relacionarem sexualmente com outro, quer seja por uma deformidade física ou deficiência ou até mesmo devido a um quadro psicológico. Será que é realmente justo deixá-las permanentemente privadas de realizarem um dos desejos humanos mais antigos, sendo que existe uma forma alternativa de atender o interesse de ambas as partes?
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De um modo ou de outro, ao que parece, o maior desafio de McMullen talvez não seja o Vale da Estranheza, mas sim passar pelo crivo dos Mestres que enxergam sua obra como ameaça. E, caso o termo tenha soado estranho, vale da estranheza é uma hipótese no campo da Estética, Robótica e Computação gráfica, que diz que as respostas das pessoas aos robôs mudam acentuadamente de empatia para repulsa quanto mais os robôs se assemelham aos seres humanos. Tal conceito foi escrito pelo professor Japonês de robótica Masahiro Mori em 1970.
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