O período do pré volta às aulas deste ano no Chile deu espaço para um problema que vem crescendo devido ao contato cada vez mais precoce que crianças têm com assuntos "adultos" sem a supervisão de seus pais ou cuidadores, a hipersexualização infantil, algo que vem forçando o Youtube a rever suas políticas.
A bola da vez foi uma imagem da campanha publicitária de uniformes escolares da marca chilena Monarch, que mostrava uma menina, que aparentava ter 10 anos de idade, sentada com as pernas dobradas, vestindo uma saia curta e justa, enquanto tomava sorvete. O caso logo ganhou repercussão nas redes sociais no país, levando pais e educadores a questionarem o impacto que imagens como essa poderiam trazer para os menores. Entretanto, como se não bastasse, outras marcas, como a Mota ou a C/Moran, talvez num movimento para impactar positivamente suas vendas, também criaram campanhas de marketing que mostravam estudantes em poses tão sensuais que chegavam, inclusive, a exibirem suas roupas íntimas.
Logicamente, o caso virou polêmica no país, forçando as citadas empresas a retirarem de circulação tais imagens publicitárias que retratavam menores como "objetos sexuais", prática popularmente conhecida como "hipersexualização infantil" ou "pedofilia corporativa". Durante entrevista para uma rádio local, a ministra do Desenvolvimento Social e Familiar, Carol Bown, disse que "as pessoas não devem ser retratadas como objetos sexuais e casos como esse estão no limite [...] é impressionante que as empresas não tenham notado". Na opinião de Patricia Muñoz, atual diretora da defensoria da infância do Chile, qualquer caso similar ao da empresa "não deve ser tolerado".
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Uma das fotos da campanha publicitária da marca C/Moran. |
"De forma nenhuma, o objetivo desta imagem foi provocar o que foi interpretado e lamentamos o que aconteceu. Isso não representa nosso pensamento como empresa e, portanto, estamos tomando medidas imediatas nesse sentido, começando pela revisão dos protocolos com as agências envolvidas", alegou o representante da marca Monarch após o caso ter entrado no âmbito judicial. De modo semelhante, as outras empresas citadas se desculparam através das redes sociais e retiraram os materiais alvos de reclamações.
Através de sua conta no Twitter, a deputada Camila Vallejo disse que "a indústria da publicidade e a mídia devem entender que o sexismo e a hipersexualização das crianças não são OK!". Reforçando esse pensamento, a psicóloga infantil Susana Saravia, em entrevista à BBC Mundo, comentou que essas marcas, ao adotarem este tipo de atitude, procuram "transmitir um caráter sexual por meio de um comportamento, conduta ou atitude de uma criança que não seja adequado à sua idade, quando ela deveria estar brincando ou se divertindo com os amigos". Ela reflete que eventos como este expõe os pré-adolescentes a "uma sexualidade adulta que é prejudicial, porque não estão preparadas nem física, nem emocionalmente para isso". Em outras palavras, isso pode acarretar na perda da infância para os afetados.
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Por meio da publicidade, muitas garotas são impostas a padrões adultos e, por conseguinte, passam a desejar roupas ou maquiagem inapropriadas para suas idades. |
Outro grande problema quando se trata dos conteúdos aos quais a crianças tem acesso nos dias de hoje, é a falta de "filtro" nas comunidades virtuais. Para Saravia, "a mídia e as redes sociais há muito tempo transmitem um estereótipo de beleza associado ao físico, à magreza, e essas informações chegam aos adolescentes em um período em que estão passando por mudanças físicas muito importantes". Para ela, a sociedade também influencia negativamente para o modo de pensar das mulheres em geral: "estamos em uma sociedade que reforça o valor do físico principalmente nas mulheres: como elas devem fisicamente para que sejam bem-sucedidas. Parte disso está relacionado a estereótipos que estão sendo construídos socialmente". E, por fim, Saravia defende que é necessário regular a publicidade, uma vez que, a situação atual, que possui artifícios como a "autorregulação" da indústria do marketing, permite que muitas empresas usem "a imagem de garotas para vender, conquistar seguidores e atrair clientes", sem levar em consideração os efeitos devastadores que essa atitude pode acarretar para toda a população.
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